O dia 11 de Setembro de 2001 marcou a história dos Estados Unidos da América, passam hoje 22 anos após aquele que é considerado o maior ataque terrorista a um centro de poder, é que nesta época, o Sistema Internacional era caracterizado pela unipolaridade e tinha os EUA como potência hegemónica resultante da herança da vitória contra o socialismo liderado pela União Soviética durante a Guerra Fria.
Antes do 11 de Setembro houve registo de vários ataques terroristas, a título de exemplo podem destacar-se os seguintes:
- 1914: atentado contra o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro da coroa do império Austro-Húngaro, em Sarajevo (Bósnia e Herzegovina), o atentado culminou com a morte de Fernando e da sua esposa e foi causa suficiente para eclosão da primeira guerra mundial numa Europa que já era um autêntico barril de pólvora dadas as tensões que existiam entre o Império Otomano, o Império Austro-Húngaro, a Grécia, a Bulgária e a Roménia.
- 1985: Explosão do Boeing 747 da Air India após extremistas Sikh terem colocado uma bomba, o avião explodiu em pleno voo ao largo da costa da Irlanda, matando todos os 329 ocupantes a bordo;
- 1995: Atentado na estação de metrô de Saint-Michel, em Paris, França. Deixou cerca de 8 mortos.
O ataque ao World Trade Center, localizado em Nova York, e ao Pentágono, localizado em Washington, o principal símbolo econômico e militar dos EUA, respectivamente, influenciou e mudou o Sistema Internacional, a história das Relações e da Segurança Internacionais.
A influência surgiu de forma natural, afinal de contas, os terroristas atacaram o centro do poder global da época, este ataque que era uma retaliação do Al Qaeda liderada pelo multimilionário árabe-saudita Osama Bin Laden (que outrora foi um forte aliado norte-americano na luta contra o comunismo) as investidas norte-americanas no oriente médio, teve causas religiosas: a inimizade existente entre os fundamentalistas islâmicos e os EUA; Políticas: o apoio dos EUA a Israel, o apoio dos EUA ao grupo minoritário no Afeganistão, os mujahidin, após a revolução islâmica no Irão que derrubou o regime pro-ocidental; teve ainda causas económicas como a crise de Petróleo de 1973.
O ataque de 11 de Setembro levou a instauração da Doutrina Bush que entre tantas medidas, levou à cabo a chamada Guerra ao Terror que consistia na busca não apenas daqueles que planejaram o ataque, mas também de qualquer célula de terrorismo existente no mundo, Bush também chamou este plano de ataque Eixo do Mal que era um conjunto de países constituído pelo Iraque, Irão, pela Coreia do Norte e mais tarde pelo Afeganistão por supostamente estar a esconder os membros do Al Qaeda, segundo os EUA, estas nações ameaçavam a paz mundial e os norte-americanos deveriam atacar estes países para prevenir futuros atentados.
O sucesso da Guerra ao Terror foi destacado no Iraque com a morte de Sadam Hussein em 2003 e 10 anos depois do 11 de Setembro, Osama Bin Laden é morto no Paquistão.
Mas será que a Guerra ao Terror foi mesmo um sucesso??
Sim e não. Ao nível doméstico os EUA podem dar-se por satisfeitos visto que conseguiram eliminar o líder do Al Qaeda e até estão mais robustos na matéria de contraterrorismo que tem como evidência a alta capacidade de prevenir e evitar ataques terroristas dentro e fora do seu país. Os EUA fizeram um investimento de cerca de 8 trilhões de dólares nesta guerra (que durou cerca de 10 anos) mas o aumento do investimento no sector militar focado nos militares fora do país, afectou outros sectores domésticos causando a renomada crise financeira de 2008 também conhecida como a bolha imobiliária.
O nível sistêmico, a Guerra ao Terror trouxe outras consequências, por exemplo, com a morte de Saddam Hussein, que ficou provado que não tinha qualquer ligação com a Al Qaeda e que era um líder que até conseguia lidar com os diversos grupos que existiam na região, surgiu o Estado Islâmico como resultado de pequenos grupos jihadistas que irromperam no início da Guerra do Iraque.
Registou-se ainda o surgimento de novas células terroristas e também a mudança das formas de ataques, como por exemplo o ISIS – Moçambique uma filial do Estado Islâmico em Moçambique que já apareceu a reivindicar vários ataques.
Ainda a este nível, ficou a evidente percepção de que afinal os EUA também tinham alguma fraqueza e levou os norte-americanos a passaram cerca de 10 anos a perseguir uma Política Externa voltada no combate ao terrorismo e a todas as suas formas de manifestação, reduzindo assim investimento em outros sectores que garantiriam a manutenção da sua hegemonia no mundo, era um jogo de dois níveis que consistia na implementação de uma Política Externa que deveria satisfazer o interesse nacional vital.
Nesta época, inicia igualmente o processo de construção de uma nova ordem mundial protagonizada por Vladimir Putin que chegou ao poder em 1999 após a renúncia de Boris Iéltsin que tinha uma ideologia pro-ocidental, Putin ascende e procede, a partir de 2001, com profundas reformas ao nível político e económico que culminaram com o controle do Estado nos principais sectores de economia, principalmente o energético o que contribuiu para o renascimento da antiga Potência Soviética que traz consigo outros actores relevantes como a China, a Índia e os Emirados Árabes Unidos.
De alguma forma, o ataque de 11 de Setembro serviu de plataforma para a criação de uma nova ordem mundial, neste momento, os EUA vivem uma relativa paz (ao nível doméstico) no que diz respeito a este tipo de ataques, mas tem de lidar com as consequências inesperadas, a recuperação da posição hegemónica que tinham no sistema internacional.
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