Relações Internacionais e Diplomacia

0 %
Orlando Mazuze
- CEO: MaCh Digital
- Mestrando em Segurança Marítima
  • País:
    Moçambique
Idiomas Falados
Português
Inglês
Espanhol
Competências
Empreendedor
Internacionalista

Eleições na Namíbia – Mais um Momento de Teste para a SADC

26/11/2024

A Namíbia vai a eleições amanhã, 27 de Novembro, num escrutínio que se espera ser o mais competitivo dos últimos anos, é que o partido que lidera o país desde a sua independência em 1990, Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO, sigla em inglês), vive um momento menos bom e traz mais elementos ao evidente mau momento político que se vive na região austral de África por parte dos partidos políticos tidos como libertadores, por exemplo:

  • Angola vai a eleições em 2027 mas neste momento a fama do partido libertador, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) não é das melhores, aliás, milhares de pessoas saíram à rua no passado dia 23 de Novembro para protestar contra os problemas sócio-económicos que afetam a população lançando duras críticas ao governo liderado por João Lourenço;
  • Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), que lutou contra o regime do apartheid, perdeu a maioria absoluta nas últimas eleições realizadas em Junho deste ano e hoje o país é liderado por um Governo de Unidade Nacional formado por 5 partidos políticos de tal forma que 12 dos 32 ministérios são liderados pela oposição;
  • O Zimbabwe realizou eleições presidenciais em Agosto do ano passado e o Presidente Emmerson Mnangagwa, da União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (ZANU-PF, sigla em inglês), foi reeleito depois de ter obtido quase 53% do total dos votos expressos numa eleição que foi condenada pela Missão de Observação Eleitoral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e pela Missão de Observação Eleitoral da União Europeia;
  • E o caso mais recente de Moçambique é mais um dado a ter em conta, o país realizou eleições gerais a 9 de Outubro e passados quase dois meses os resultados definitivos ainda não foram divulgadas, nestas eleições, diga-se, esperava-se a participação de cerca de 17 milhões de eleitores mais dados oficiais divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) indicam que apenas 9 milhões de eleitores afluíram às urnas, o que revela um alto nível de abstenções que aliado a fraude eleitoral denunciada pelos vários sectores da sociedade coloca o país numa incerteza a todos os níveis já lá vão cerca de 47 dias.

Os eventos políticos supracitados não podem ser ignorados pelos países membros do bloco regional SADC, visto que com a dinâmica das relações internacionais eventos domésticos podem ter impactos ao nível regional ou sistémico. A SADC tem os membros vistos abaixo com realidades políticas interessantes:

  • O Malawi, é actualmente liderado por Lazarus Chakwera um líder que concorreu e venceu pela oposição;
  • A Zambia é liderada Hakainde Hichilema do Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional, antes partido de oposição do país;
  • Recentemente, o Botswana viveu um momento histórico com a eleição do novo presidente Duma Boko que destronou o Partido Democrático que governava o país há mais de 58 anos;
  • Nas Maurícias também viveu-se um momento histórico, a oposição liderada por Navin Ramgoolam, obteve 62,6% dos votos e venceu de forma esmagadora as eleições presidenciais.

É importante destacar que os partidos tidos como libertadores de países como Moçambique, Angola, África do Sul e Zimbabwe estabeleceram uma aliança natural ao longo do tempo e agem como protectores uns dos outros, por isso, a derrota de um representa sempre uma ameaça para os outros.

Voltando para a Namíbia, espera-se que cerca de 1.4 milhões de eleitores vão às urnas amanhã numa disputa eleitoral que se pode considerar a mais renhida dos últimos anos. Entre os candidatos está a actual Vice-Presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah da SWAPO, que pode ser, caso vença as eleições, a primeira presidente do país, contudo, em 2019, o partido perdeu sua maioria de dois terços na Assembleia Nacional pela primeira vez desde 1994, é um desempenho eleitoral assombrado pelos escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro na indústria pesqueira da país que culminaram com a prisão de ministros e empresários ligados ao sector. Esta perda de aceitação popular deu mais campo de actuação a oposição que aproveita o momento menos bom da SWAPO para apresentar mudanças no país onde os Patriotas Independentes pela Mudança e o Affirmative Repositioning, liderados pelo ex-dentista Panduleni Itula e pelo professor universitário Job Amupanda, respectivamente, ganham mais destaque principalmente depois dos resultados interessantes obtidos nas eleições regionais e locais de 2019 e 2020.

A mudança de gerações também inspira um cenário político novo, o facto de as gerações mais velhas e com lealdade a partidos políticos “tradicionais” estarem a ser substituídas por uma geração que nasceu um pouco depois da independência com uma média de 21 anos e a mais da metade dos 3 milhões de habitantes constituem um elemento importante neste pleito eleitoral, aliás, a maioria destes jovens eleitores vive nas zonas urbanas com um acesso mais fácil a informação e constitui um elemento decisivo nestas e nas próximas eleições.

Os ventos da mudança pairam, importa que os actores políticos tirem as devidas lições porque o mundo está a mudar e África, em particular a Austral, não é uma excepção. A expectativa é enorme e como que os impactos da primavera árabe no Norte de África, se espera ver o impacto das mudanças políticas na África Austral.

Loading

Publicado em: Análise Internacional, Artigos de OpiniãoTags:
2 Comentários
  • Kátia Melo

    Realmente a as novas gerações desconectadas com as histórias de libertação estão a causar mudanças profundas na SADC.

    12:33 28/11/2024 Responder
  • Elton Langa

    Análise muito coerente. Bem dito Orlando.

    12:18 28/11/2024 Responder
Escreva o seu comentário
© 2013 - 2024 - Orlando Mazuze. All Rights Reserved.
Desenvolvido por: MaCh
Mudar Idioma »