Nos últimos 5 dias o mundo assiste a uma escalada sem precedentes de uma das guerras mais longas da história da Humanidade, trata-se da guerra Israel-Palestina que conheceu um novo capítulo com o ataque surpresa do grupo fundamentalista Hamas a Israel no passado sábado, 7 de Outubro. A Guerra entre Israel e Palestina dura há cerca de 7 décadas e é das mais longas e marcantes da região do Médio Oriente que é uma das regiões mais conflituosas do mundo. Esta disputa gira em torno da posse do território em que está a Palestina, território este reivindicado pelo Estado de Israel que foi fundado em 1948 depois da II Guerra Mundial e pelos árabes da Palestina, contudo, a origem desta disputa remonta desde os finais do Século XIX. O objectivo deste artigo é de explicar as causas, os actores e as possíveis consequências deste conflito quase centenário, entretanto, a melhor forma de entender esta guerra é regressando ao passado por forma a vermos a influência religiosa, britânica e das Nações Unidas neste conflito e processo de criação do Estado Israelita.
Influência Religiosa como Causa do Conflito
O povo de Israel peregrinou pela Europa em busca de melhores lugares para habitar, este êxodo aconteceu com resultado da ocupação do território tido como seu por parte de vários povos. Em termos de domínio territorial, Israel conhece os seguintes momentos: Domínio romano (63 a.C.–313 d.C.); Domínio bizantino (313–636 d.C.); Domínio árabe (636–1099 d.C.); Domínio dos cruzados (1099–1291 d.C.); Domínio mameluco (1291–1516 d.C.); Domínio otomano (1517–1917 d.C.); Domínio britânico (1917–1948 d.C.), estes momentos históricos de dominação levaram a terra de Israel a ter uma mistura de povos com destaque para os islâmicos e árabes e causaram um êxodo do povo judeu para outras regiões mais seguras com destaque para o continente europeu mas, a sua permanência neste continente foi afectada pelo antissemitismo que desencadeou um processo de migração do povo de volta à terra em que está a Palestina nas décadas de 1930 e 1940, a perseguição nazista para com os judeus no decurso da II Guerra Mundial e o holocausto fizeram crescer a necessidade de os Judeus regressarem à terra que acreditam pertencê-los, a Terra Prometida.
A escolha do povo Judeu de regressar à Terra Prometida, encontra base na crença judaica segundo a qual a área em que hoje está localizado o Estado de Israel, é o território que a Bíblia Sagrada chama de Canaã (Terra Prometida) que Deus prometeu dar ao primeiro patriarca, Abraão e aos seus descendentes. A área foi invadida por vários povos, entre os quais os babilónios, persas e os romanos, estes últimos, liderados por Adriano (76-138 d.C.) que era um inimigo ferrenho do Deus de Abraão, Isaque e Jacó e dos judeus, os romanos deram nome de Palestina a região, o nome deriva do latim Palæstina que na época romana envolvia toda a costa do Mediterrâneo, os territórios de Israel e da atual Jordânia. Ainda ao nível religioso, há uma conotação entre a origem hebraica do nome palestina que é Peleshet – שתפל que faz ligação aos filisteus. O nome filisteu aparece em várias passagens da Bíblia Sagrada com destaque para o livro de Gênesis 10:14 que traz uma abordagem explicativa sobre a origem do nome com a seguinte escrita: “pelishti”, ou com a forma plural “pelishtim”, sendo o território ocupado pelos filisteus chamado de filístia (heb. Peleshet – שתפל). Os filisteus constituem um inimigo histórico para Israel com referência a invasão feita por estes a terra de Canaã por volta do Século XII a.C, a Bíblia Sagrada traz inúmeros exemplos de guerras entre o povo de Israel e os Filisteus com destaque para a grande batalha descrita em 1 Samuel 17 quando no reinado de Saul, o jovem David derrotou Golias, o gigante filisteu, reduzindo assim o país dos filisteus a uma pequena faixa de território na costa do mediterrâneo. Este excerto mostra parte das origens religiosas da guerra de forma que os filisteus de ontem são considerados os palestinos de hoje e por isso justificar-se as rivalidades entre os dois povos.
Uma outra abordagem, também religiosa, que ganha corpo neste conflito é a origem dos árabes e dos judeus, os árabes são originários de Ismael (o filho bastardo de Abraão) e os judeus de Isaque (o filho da promessa). A Bíblia Sagrada fala de um filho de Abraão que foi gerado fora do seu casamento devido aos desafios que ele e a sua esposa Sara tinham para gerar um filho, este filho chamou-se Ismael e tinha como mãe, Agar, a serva egípcia da família, devido a má convivência entre as duas mulheres, Sara pediu que o esposo Abraão expulsasse Agar e Ismael do seu convívio o que causou uma grande revolta no coração de Ismael conforme o salmista ilustra no seu poema que consta do Salmo 38 em que faz menção ao aumento da ira do povo inimigo contra Israel com destaque para os Ismaelitas. Esta conotação da revolta dos Ismaelitas contra Israel, encontra ainda enquadramento quando em Genesis 21:18 Deus promete fazer dos descendentes de Ismael um grande povo e no mesmo livre sagrado, no capítulo 16, o Anjo do Senhor fala com a mãe de Ismael e diz que “será grande nação, um povo que se multiplicará de forma incontável, há de vir a ter um carácter rebelde, tão livre e indomável como um jumento selvagem! Será contra todos, e toda a gente será contra ele. Mas viverá perto dos que são da sua raça”. Esta colocação faz com que os palestinos reivindiquem a mesma terra sob o pretexto de que Ismael também é descendente de Abraão e, portanto, merecedor da promessa.
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Bom artigo. Está perfeito.
Obrigado meu caro.
Obrigada por este artigo bem claro, aguardo pelo proximo capitulo.
Obrigado Aissa.
Wau! Dr. Orlando Mazuze
Obrigado pelo esclarecimento de uma forma tão nítida e simples.
Obrigado caro Rafael.