Relações Internacionais e Diplomacia

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Orlando Mazuze
- CEO: MaCh Digital
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Internacionalista

Entrevista de Robert F. Kennedy Jr sobre a Guerra na Ucrânia

06/06/2023

Robert F. Kennedy Jr. sobrinho do antigo presidente norte-americano John F. Kennedy, que governou os EUA de 1961 a 1963 (parte do período da guerra fria), concedeu uma entrevista (link disponível no fim do artigo) na semana passada em que aborda várias questões como a guerra na Ucrânia e as eleições presidenciais nos EUA. Transcrevo (na língua inglesa) abaixo uma das partes da entrevista e uma tradução livre:

“Every decision we’ve made in Ukraine seems to have been intended to prolong the war and to maximize the bloodshed…. what we’ve done is destroyed this country with a war that we could have settled at the outset.” Tradução: “Todas as decisões que tomamos na Ucrânia parecem ter a intenção de prolongar a guerra e maximizar o derramamento de sangue … o que fizemos foi destruir este país com uma guerra que poderíamos ter resolvido no início.”

Apesar de a entrevista trazer conteúdos verdadeiros sobre a guerra na Ucrânia, “peca” por estar inserida num contexto de pré-campanha eleitoral pelo que pode fazer parte de uma jogada política, é que Robert Kennedy Jr. será adversário de Joe Biden nas disputas internas do partido democrata e é consequentemente candidato presidencial às eleições de 2024. Nas suas abordagens, o candidato já criticou o sistema de vacinas nos EUA durante o pico da Covid-19 chegando a criar campanhas anti-vacinas que culminaram com a restrição das suas contas nas redes sociais Facebook e Instagram.

Mas qual é a importância de falar dos EUA? Que implicações têm para Moçambique?

“Simples”, apesar do estatuto igualitário dos Estados ao nível do Sistema Internacional, há Estados e Estados, isto é, há alguns que pelo seu poder (militar, económico, perceptível, entre outros) exercem maior pressão sobre o sistema, como se diz por ai, “quando os EUA estão com gripe, o resto do mundo desenvolve tosse”, caso das crises económicas das quais as mais catastróficas para a humanidade iniciaram nos EUA como por exemplo a crise económica de 1929, também conhecida como a grande depressão e a crise financeira de 2008 que teve como causa a “bolha” no sector imobiliário, só para citar alguns exemplos.

Apesar da evidente mudança da ordem mundial de uni/bipolar para multipolar, principalmente com as ascensão dos BRICS que ganham influência principalmente por vias económicas, os EUA continuem a exercer uma forte influência ao nível do Sistema Internacional de tal modo que o resultado das eleições neste país pode mudar o rumo do mundo, dependendo naturalmente do vencedor, a Política Externa vai também ser conduzida em função das crenças e valores do líder. 

A posição de Robert F. Kennedy Jr. é claramente contra a guerra na Ucrânia e pode ser um trunfo para conseguir alguma vantagem em relação a Joe Biden, trunfo porque tende a se levantar uma onda de contestação em relação aos gastos que os EUA têm com a guerra na Ucrânia, segundo o Jornal The Hills, até Janeiro de 2023 os EUA tinham gasto cerca de 77,5 bilhões de dólares em ajuda a Ucrânia, muito superior a ajuda que dá aos países em desenvolvimento para lidarem com vários tipos de crises que hoje enfrentam, este dinheiro vem claramente dos impostos dos cidadãos americanos e dependendo de como a situação for gerida, pode causar convulsões ao nível interno que podem aumentar a não legitimação da actual liderança, é que quando as acções do governo perdem legitimidade por parte do povo, as chances do líder cair são maiores, aliás, o tido como pai da Diplomacia norte-americana, Henry Kissinger disse recentemente que a intenção dos EUA tornar a Ucrânia membro da NATO é um erro grave e que conduziu a actual guerra neste país europeu. 

Voltando ao Robert F. Kennedy Jr, se ele mantiver esta visão, vencer as internas e as presidenciais, pode mudar o cenário da guerra na Ucrânia, a visão do candidato democrata não difere da de Donald Trump (um dos candidatos republicanos) no que diz respeito a esta guerra, até mesmo em relação a Covid-19, o mesmo teria dito umas tantas vezes, que tem capacidade para acabar com a guerra na Ucrânia. O fim da guerra na Ucrânia, dependendo do vencedor, pode significar a estabilização da economia mundial, no caso em particular de Moçambique, pode incidir no abrandamento da subida da taxa da inflação e principalmente no abrandamento do aumento do preço dos combustíveis que funcionam como um efeito dominó no resto da economia.

Em suma, são decisões tomadas ao nível do centro que têm fortes implicações na periferia, as guerras retardam o desenvolvimento do mundo, apesar de estas serem inevitáveis na abordagem realista, devem cada vez mais estar fora da agenda dos Estados, pode até parecer utópico mas não há desenvolvimento sem paz, a economia da guerra é real mas não serve na construção de um mundo melhor saudável. 

Link da entrevista: https://twitter.com/upholdreality/status/1664806363204034560

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Publicado em: Análise Internacional, Artigos de OpiniãoTags:
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